segunda-feira, 4 de junho de 2012


Danuza Leão

DANUZA LEÃO nasceu em Itaguaçu em 26 de julho de 1933, no Espírito Santo, e aos dez anos foi para o Rio de Janeiro. Depois de exercer atividades variadas, tornou-se jornalista. Suas crônicas encontram-se reunidas em Danuza todo dia, Crônicas para guardar e As aparências enganam. Seu maior sucesso foi o livro de etiqueta Na sala com Danuza (1992), que liderou a lista dos mais vendidos durante um ano, e teve uma edição revista, Na sala com Danuza 2, em 2004 e uma edição de bolso pela Companhia das Letras em 2007. Também pela Companhia das Letras publicou seu livro de memórias, Quase tudo (2005), que já vendeu quase 130.000 exemplares. Irmã da cantora Nara Leão, foi casada com o jornalista Samuel Wainer, fundador do extinto jornal Última Hora. É mãe da artista plástica Pinky Wainer, do jornalista, já falecido, Samuel Wainer Filho e de Bruno Wainer, empresário do ramo de distribuição cinematográfica.


Aos quinze anos, Danuza Leão frequentava a casa do pintor Di Cavalcanti. Aos dezenove, foi a primeira modelo brasileira a desfilar no exterior. Aos vinte, casou-se com um importante dono de jornal que tinha o dobro da sua idade. Tempos depois, com três filhos pequenos, separou-se para viver um grande amor com um cronista e compositor pobre. Aos quarenta e poucos, já avó, comandou as noitadas das boates Regine’s e Hippopotamus. Danuza foi dona de butique, membro de júri de programa de auditório, relações públicas, entrevistadora de TV, produtora de novela, cronista social e publicou um livro sobre etiqueta moderna.
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domingo, 3 de junho de 2012

JORGE GUINLE .


Jorge Guinle

Jorge Guinle, também conhecido como Jorginho Guinle (Petrópolis5 de fevereiro de 1916 — Rio de Janeiro5 de março de2004) foi um socialiteplayboy e herdeiro milionário brasileiro.
Viveu a época áurea do Rio de Janeiro entre a década de 1930 e 50, onde conheceu e acredita-se que tenha tido relações amorosas com diversas atrizes de Hollywood, como Marilyn Monroe e Hedy Lamarr. Residiu no hotel Copacabana Palace (fundado por seu tio,Octávio Guinle) até a sua morte, gabando-se de nunca ter tido de trabalhar na vida. Gastou muito de sua fortuna com ininterruptas festas luxuosas, viagens pelo mundo, presentes e mulheres, entre elas Rita HayworthMarilyn MonroeRomy Schneider,Kim NovakAva GardnerSusan HaywardJayne MansfieldMarlene Dietrich e Janet Leigh. Jorge se orgulha de ter gasto a fortuna de quase cem milhões de reais que lhe foi deixada de herança. "Vivi o que quis, quando eu quis", frase na qual ele mesmo se define.
Guinle também escreveu o primeiro livro editado no Brasil sobre jazz (Jazz panorama), uma de suas paixões. Sua autobiografia foi titulada Um século de boa vida. Era também declaradamente ateu.

Casamento e filhos

Jorge Eduardo Guinle foi casado três vezes. O primeiro casamento foi com a americana Dolores Sherwood, com quem teve o filhoJorge Eduardo Guinle Filho, o artista plástico Jorginho, morto em decorrência da AIDS, em 1987.
O segundo casamento de Jorginho foi com Ionita Salles Pinto, moça criada em Ipanema e muito famosa dentre os intelectuais do bairro. Ionita estudou teatro com Leila Diniz, de quem foi grande amiga e também participou do filme de Domingos de Oliveira, "Todas as Mulheres do Mundo". Ionita foi considerada uma das mulheres mais bonitas do Brasil. Do casamento com Jorge Guinle nasceu a filha Georgiana Guinleescritora, ex-apresentadora de televisão e atualmente evangélica. Georgiana é membro da Igreja Bola de Neve (igreja que ficou famosa depois que a modelo Monique Evansdeclarou fazer parte do rol de membros).
O terceiro casamento de Jorge foi com uma moça de classe média baixa de Copacabana, Maria Helena, com quem teve seu filho Gabriel.

Notas e Referências


  1. wikipedia
  2.  a b c d Celso Ávila. Morre aos 88 anos Jorginho Guinle (em português). Terra - Gente & TV. Página visitada em 11 de maio de 2008.
JORGINHO GUINLE, O MAIOR PLAYBOY BRASILEIRO -UM SÉCULO 
DE BOA VIDA...
FONTE: YOUTUBE.

Fashion & Beauty


Registros da moda por Lagerfeld

O diretor artístico da Chanel revive um século de estilo com suas ilustrações

por Redação em 01 de junho, 2012
Karl Lagerfeld, explorando mais um de seus muitos talentos, esboçou um século de história da moda para o jornal francês Le Figaro. Na lista de ilustrações inspiradores do kaiser, silhuetas icônicas evocam Poiret, Schiaparelli, Dior, Courreges, Yves Saint Laurent e, claro, Chanel. 

 Fotos: reprodução
FONTE: OQUEVESTIR.



sexta-feira, 1 de junho de 2012

O FILME ZUZU ANGEL
ESTILISTA DE SUCESSO, MÃE DEDICADA, MULHER GUERREIRA.
FONTE:YOUTUBE.

Estilista mineira

Zuzu Angel

05/06/1921, Curvelo (MG)
14/04/1976, Rio de Janeiro (RJ)
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
[creditofoto]
Ainda menina, Zuleika Angel Jones mudou-se com a família para Belo Horizonte. Ali começou sua carreira como costureira, fazendo roupas para as primas. Depois foi para Bahia e, em 1947, estabeleceu-se no Rio de Janeiro onde começou a carreira profissional. Já não era propriamente uma costureira, mas uma estilista, que criava sua própria moda, com uma linguagem muito pessoal.

Tratava-se, além disso, de uma moda brasileira, com materiais do país e cores tropicais. Misturava renda, seda, fitas e chitas com temas regionalistas e folclóricos, com estampados de pássaros, borboletas e papagaios. Trouxe também para a moda as pedras brasileiras, fragmentos de bambu, de madeira e conchas. Buscava não somente o mercado da elite, como também queria vestir a mulher comum.

Nos anos 1970 abriu sua loja em Ipanema e encantou o mundo. Conquistou o mercado norte-americano, foi vitrine de grandes lojas de departamentos e apareceu em importantes veículos de comunicação dos Estados Unidos. Pioneiramente, começou a divulgar sua marca colocando-a do lado externo da roupa. O anjo era o seu logotipo.

Sua maior luta pessoal, porém, começou com o seqüestro político de seu filho Stuart Angel Jones, estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ativista do Movimento Revolucionário 8 de Outubro - MR-8, Stuart desapareceu depois de ter sido preso em 14 de junho de 1971 por agentes do CISA (Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica). Zuzu saiu em busca do filho nas prisões e nos quartéis.

Logo após a morte de Stuart, as torturas que sofreu foram narradas a Zuzu por meio de uma carta do preso político Alex Polari de Alverga. Segundo esse depoimento, Stuart foi arrastado por um jipe pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no cano de descarga do veículo. Mais tarde, Alex ouviu os gritos de Stuart - numa cela ao lado - pedindo água e dizendo que ia morrer. Depois, seu corpo foi retirado da cela. Este depoimento de Alex consta do vídeo "Sônia Morta e Viva", produzido e dirigido por Sérgio Waisman, em 1985.

Já separada do marido, o americano Norman Angel Jones, Zuzu Angel incansavelmente denunciou as torturas, a morte e ocultação do cadáver de Stuart, tanto no Brasil como no exterior. Em vários de seus desfiles denunciou os fatos para a imprensa, entregando pessoalmente uma carta a Henry Kissinger, na época Secretário de Estado do Governo norte-americano, já que seu filho também tinha a cidadania americana. Utilizou sua fama para envolver, a favor da sua causa, inúmeros clientes e amigos importantes: Joan Crawford, Kim Novak, Veruska, Liza Minelli, Jean Shrimpton, Margot Fonteyn e Ted Kennedy, entre outros.

Zuzu passou a usar sua moda como forma de protesto fazendo - como ela mesma dizia - "a primeira coleção de moda política da história", usando ao lado dos anjos, as figuras de crucifixos, tanques de guerra, pássaros engaiolados, sol atrás das grades, jipes e quépis. O uso dessas metáforas foi a solução que encontrou para simbolizar, em seu trabalho, a história de seu filho.

Em 14 de abril de 1976, às 3h, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (RJ), Zuzu morreu, vítima de um acidente automobilístico. Na época, o governo divulgou que a estilista teria dormido ao volante, fato contestado anos depois. Até hoje as circunstâncias dessa tragédia não foram esclarecidas.

Uma semana antes do acidente, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque, um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse. "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho", dizia. Sua força e coragem inspiraram ao compositor, em parceria com Miltinho do MPB4, a música "Angélica", cuja letra pergunta, "quem é essa mulher?" ().

Zuzu Angel foi sepultada pela família, em 15 de abril de 1976, no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro. Uma de suas duas filha, a jornalista Hildegard Angel, foi a idealizadora do Instituto Zuzu Angel de Moda do Rio de Janeiro, uma entidade civil sem fins lucrativos, fundado em outubro de 1993.
FONTE: UOL EDUCAÇÃO
IBRAHIM SUED E O BON VIVANT CHIQUINHO SCARPA.
FONTE: YOUTUBE.






O estilo do Turco


Coletânea de notas escritas por Ibrahim Sued recupera um personagem-chave da crônica carioca

MARCIA VIEIRA












Ibrahim Sued, morto em 1995, escreveu mais de 15 mil colunas ao longo de 45 anos: uma seleção delas foi reunida no livro "Em sociedade tudo se sabe".




Ele nasceu sem sobrenome e sem fortuna, mas acabou circulando ao lado de gente como o presidente Getúlio Vargas, a rainha Elizabeth e o presidente americano John Kennedy.
Cometia erros crassos de português, mas, por competência, se tornou um dos jornalistas mais importantes da sua geração.
Era um anticomunista ferrenho, e, ainda assim, ajudou a tirar das prisões gente perseguida pelo governo militar nos anos de ditadura.
Ibrahim Sued teve uma vida marcada por contradições e paradoxos. Criou um estilo único de fazer coluna social que marcou definitivamente o gênero no Brasil. Inventou termos que entraram na moda, como champanhota, niver, su, ademã, de leve.
O Turco, apelido que o acompanhou a vida toda, nunca foi uma unanimidade. Pelo contrário. Era capaz de despertar amor e ódio.
Talvez por isso tenha virado um personagem da crônica da cidade. Uma pequena amostra do estilo Ibrahim Sued chega às livrarias no ano de 2004. Em sociedade tudo se sabe (Editora Rocco, 260 páginas, preço a confirmar) é uma coletânea de suas notas publicadas ao longo de 45 anos de colunismo social.
Ibrahim escreveu mais de 15 mil colunas até morrer, de infarto, em 1995, aos 71 anos.
O livro, organizado por sua filha Isabel Sued, é uma viagem pelos costumes, as modas, os governos e os rumos da economia dos anos 50 até a metade dos anos 90.
Mas é pouco diante da complexidade do personagem Ibrahim Sued. "Mais tarde vamos lançar uma biografia dele", garante Isabel. "Mas agora eu precisava fazer esse livro. Pelas notas, pelo estilo dele, o leitor vai poder conhecê-lo", diz.
Ibrahim fez de tudo um pouco na vida. Tijucano, filho de imigrantes árabes, estudou até o terceiro ano do antigo ginasial. Foi jornaleiro, entregador de sapataria, office-boy e fotógrafo. E foi um homem de sorte.
Aos 22 anos, sentiu o gosto do sucesso ao registrar um flagrante histórico. Ibrahim era então um desconhecido fotógrafo free-lancer. Na saída da Assembléia Legislativa, flagrou o político baiano Otávio Mangabeira cumprimentando o general americano Dwight Eisenhower, ex-comandante das tropas aliadas na Europa na Segunda Guerra Mundial. Na realidade Mangabeira abaixou a cabeça para apertar a mão de Eisenhower. Dava a impressão de que ia beijar a mão do americano. A foto gerou uma onda de protestos nacionalistas. E Ibrahim Sued começou a ser notado.


Cafajestes - Ao lado de Mariozinho de Oliveira e Baby Pignatari, Ibrahim fez parte do Clube dos Cafajestes, uma turma dos anos 50 que promovia festas e rebus que abalavam os padrões da época.
Aos poucos começou a freqüentar a alta sociedade.
A estréia em coluna social aconteceu em 1951, no jornal A Vanguarda. A grande virada veio três anos depois quando estreou no jornal O Globo, onde ficou até a morte.
Sua coluna misturava fofocas de sociedade, política, economia, cultura. Ibrahim também inventava regras, fazia listas. No auge do high-society carioca, publicava o ranking das dez mais elegantes, onde brilhava o trio Carmem Mayrink Veiga, Tereza Souza Campos e Lourdes Catão.
Também criava personagens totalmente fictícios, como a Dama de Preto, que ele fazia circular pelas festas do Rio. Na época, se dizia que ela era inspirada em Elisinha Moreira Salles, mãe do cineasta Walter Salles Jr. Ibrahim nunca confirmou.
Nos anos 50, ele já era um sucesso. O jornalista Elio Gaspari, que trabalhou com o Turco, escreveu na apresentação do livro: "Havia festa com ou sem Ibrahim. Seguindo a metamorfose iniciada por Walter Winchell nos Estados Unidos, adicionou à crônica da boa vida do andar de cima a agenda dos negócios e das tramas políticas que nele se desenrolam. Conseguiu isso trabalhando duro".
Carmem Mayrink Veiga, figura constante nas notas de Ibrahim desde a época em que o tamanho do seu biquíni gerava comentários no "café society", é testemunha do estilo que Ibrahim imprimiu na sociedade carioca. "Ele era muito sincero. Um dia me disse, na cara, que gostava muito de mim, mas achava os meus jantares chatérrimos, ri". Continuaram amigos. Segundo Carmen, Ibrahim fazia questão de contar que começou a vida do zero. "Ele tinha orgulho. Era autêntico. Tinha um português bastante ruim e se divertia com isso."

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernob/2001/11/02/jorcab20011102001.html

Galeria de admiradores inusitados

Os erros de português são tão famosos que viraram uma marca. Ibrahim criou um carimbo com a inscrição "Favor esquecer Camões. Proibido mexer no meu estilo. Merci".
Colocava a inscrição no final das suas crônicas para que nenhum redator ousasse corrigir o que escrevia, mesmo quando parecesse um atentado ao português. O que o Turco não admitia era se ver ridicularizado por outros.
Quando fazia um quadro no Fantástico, da TV Globo, virou motivo de piada.
O comediante Agildo Ribeiro, que já fazia imitações de Dercy Gonçalves, Chacrinha e Clodovil, incluiu o Turco na sua lista de "homenageados", como Agildo gosta de dizer. "Os pessoal vai lá diariamente às terça e quintas", era uma das piadinhas inspiradas no estilo Ibrahim de falar. Ibrahim odiava. "Assim como não se pode imitar a Dercy sem os palavrões, era impossível imitar o Ibrahim sem os tropeços de gramática", defende-se Agildo Ribeiro.
Os encontros entre os dois eram desagradáveis. "Quando perguntavam se ele tinha visto o meu show ele respondia não vi e não gostei. Até que um dia, o Ricardo Amaral resolveu nos apresentar. Ibrahim não gostou. Disse apenas lamentável. Ele jamais entendeu, mas eu era um admirador dele", diz Agildo.
Ibrahim arregimentou outros admiradores inusitados ao longo da vida.
A travesti Rogéria virou fã de carteirinha. Os dois se conheceram quando Rogéria era estrela do Carrossel de Paris. "Na casa ao lado ia Maria Callas, John Kennedy. O Ibrahim se dava com essa gente toda. Um dia ele me ofereceu uma carona. Ele tinha se interessado por uma amiga minha. Eu bem que tentei ajudar, mas ela não quis nada com ele. Era lésbica", recorda Rogéria. Mesmo assim Ibrahim ficou grato. Quando mais tarde, durante o governo militar, um show de Rogéria foi censurado, Ibrahim socorreu a amiga. Ele disse para os militares que eu era uma estrela internacional. Funcionou."

Militares - Ibrahim era amigo do presidente Costa e Silva e tinha bom trânsito entre os militares. "Ele não aderiu ao regime militar. O regime é que aderiu ao Ibrahim. Ele pegava notícias, era anticomunista, mas não havia cumplicidade com a parte podre, tenebrosa do estado ditatorial. De jeito nenhum", diz o colunista Ricardo Boechat, que trabalhou com Ibrahim.
A relação com os militares serviu para pedir por presos políticos, para ajudar na volta do professor Darcy Ribeiro do exílio, para liberar o livro Reflexos do Baile, de Antonio Callado.
Se Ibrahim usava as amizades poderosas para ajudar as pessoas, também soube tirar partido delas. O Turco conseguiu fazer fortuna usando informações privilegiadas que conseguia das suas fontes para aplicar no mercado financeiro. Ganhou dinheiro também comprando obras de artistas desconhecidos que mais tarde se valorizavam. Ibrahim gostava de viver bem. Fazia viagens para Europa e Estados Unidos com a primeira mulher, Glorinha Sued, mãe de Isabel e Eduardo. Em 1981, se casou com Simone Rodrigues, que na época era modelo da São Paulo Alpargatas. "O Ibrahim era sócio de uma discoteca com o Chico Recarey e me chamou para desfilar lá. Aí começou a dar notas minhas, disse que me colocaria num comercial e acabamos ficando 15 anos juntos", conta Simone.
Ibrahim teve um terceiro filho, Guilherme, com Márcia Levinson, que ele nunca conheceu. Mas Simone jura que três meses antes de morrer, Ibrahim planejava encontrar o rapaz. Não deu tempo.
Simone e a filha Isabel testemunharam a amargura de Ibrahim, quando em 1993, o jornal O Globo resolveu substituí-lo pelo colunista Zózimo Barroso do Amaral. "Foi um baque para o meu pai. Ele ficou muito triste. Não se recuperou", diz Isabel.
Numa das suas crônicas, ele escreveu: "Não vale a pena esperar gratidão em jornalismo. Aliás, não espere gratidão nenhuma, porque nem Jesus Cristo escapou das maledicências daqueles que tinha como seus amigos. Se não foram gratos com Jesus Cristo, não vão ser com você." (M.V.)

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernob/2001/11/02/jorcab20011102004.html

Os mandamentos do colunista

JORNAL DO BRASIL , 3 DE NOVEMBRO DO 2001
Ibrahim Sued gostava de ditar regras. De moda ao comportamento certo no jantar da alta sociedade, ele oferecia lições sobre tudo. A maioria ele aprendeu na prática dos salões que freqüentou. Outras, inventou, como o pavor de uso de meia brancas para o homem. Achava um sacrilégio. Ao longo de 45 anos de colunismo, Ibrahim deu palpite sobre tudo. Veja abaixo alguns exemplos:
1. Os palitos foram totalmente abolidos nos jantares. Evite palitar os dentes em público, mas se de todo não puder, dirija-se ao toilette.

2. A meia branca para homem nunca deve ser usada à noite. Durante o dia, somente com traje esporte, quando os sapatos forem brancos.

3. Nunca se deve pedir lenço emprestado.

4. Homem deve evitar ao máximo o uso de jóias. Um homem sóbrio e elegante usa apenas cigarreira e abotoaduras.

5. É de mau gosto perfumar excessivamente o papel de carta.

6.Se você deseja receber, não importa que seja rica ou pobre. Com um bom feijão, arroz, gostosa carne no fogão e uma salada temperada, você pode reunir seus amigos e receber. Não é necessário o caviar. Lembre-se de que ninguém vai à sua casa para conhecer seus parentes. Portanto, não se preocupe em encher a casa de parentes.

7. Se você tiver nas suas relações um banqueiro, inclua-o nas listas das festas grandes. Todo mundo gosta de conhecer banqueiro.

8. Não insista, como: ''Come mais um pouquinho''... Não seja insistente. Se o cara parou de comer ou só comeu salada é porque já matou a fome ou está de regime. Não encha o saco do seu convidado...

9. Hoje já se serve peixe com arroz. Antigamente era uma heresia protocolar.

10. Num jantar formal você pode servir a champanhota. O cafezinho não é obrigatório. Sirva um licor.

11. Se uma mulher estendeu a mão, é pra você beijá-la. Significa que ela não quer a intimidade dos beijinhos nas faces...entendeu?

12. Boate e cassino nivelam as pessoas. Todos os convidados são iguais. Em princípio. Na prática alguns são mais iguais...

13. Se seu botão caiu numa festa, não aporrinhe a anfitriã, que está recebendo, pedindo agulha e linha. Se vire. E, também, se não tiver pílula no toalete, não reclame da sua dor de cabeça. Volte para casa.

14. Se você está na fossa, siga estes conselhos: não tente compreender a vida. Aprenda a vivê-la. Não desperdice um minuto sequer pensando nas pessoas que não lhe agradam. Conte as bênçãos recebidas e não as contrariedades. Lembre-se de que podia ser pior. Aprenda a sorrir. Tenha sempre fé no amanhã. Se você tem uma maçã, não queira fazer com ela uma limonada. Tire sempre partido das suas derrotas. Nunca se julgue um infeliz. Ao contrário, pense sempre que você é feliz. A vida é o que os nossos pensamentos fazem.
15. Por fim, nunca chore pelo leite derramado se você quiser ser feliz.
Fonte: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernob/2001/11/02/jorcab20011102002.html 



Os cães ladravam e a
caravana passava

Ibrahim Sued revolucionou o modo de se fazer coluna no Brasil.
Descobriu que os salões da elite podiam render muito mais do que registros mundanos, fofocas voláteis ou crônicas de comportamento. Ali havia manchetes também. E muitas. Depois de algumas taças, à mesa do jantar ou no bulício das recepções, o ministro mostrava a minuta do decreto ainda inédito. O industrial abria o jogo sobre uma grande fusão de empresas. E o banqueiro dava o inside que agitaria o mercado nos dias seguintes. O Turco descobriu esse filão.
Com faro inigualável para a notícia e o destemor dos decididos a sobreviver, ele saltou o gigantesco fosso que o separava dos ricos, bem nascidos e letrados para construir um mito que, em pouco tempo, os faria súditos do que escrevia e ditava.
Os incontáveis furos que produzia, mesclados a relatos intimistas de ambientes inacessíveis aos mortais, fizeram de Ibrahim Sued uma celebridade nacional, um olheiro do público nas altas rodas do poder.
Seu nome logo virou sinônimo de novidade, de bomba. O sucesso desse gênero de jornalismo até então desconhecido foi fulminante. Todos os jornais criaram colunas ''iguais''.
Ser colunista era ostentar um título que associava prestígio, informação privilegiada e altos índices de leitura. Menino de família pobre, que cedo trocou a escola pela estrada, ele escondia até dos mais próximos a dimensão do sacrifício que se impôs para conquistar o Olimpo.

Fardão - Convivi com Ibrahim por mais de 25 anos, 14 dos quais diariamente, como repórter de sua coluna em O Globo. Do desejo inicial de fuzilá-lo - aos olhos do foca comunista vindo de Niterói, aquela figura enorme, cheia de correntes de ouro e roupas caras era apenas um ''lacaio do imperialismo'' - à compreensão adulta do quanto aprendera com ele, a figura que fixei foi a de um homem acuado por seu personagem.
Sem dúvida, ele me daria uma descompostura por pensar ''essas frescuras''. Me chamaria de ''chumbeta'', ''buzunta'' ou de outro nome qualquer, dentre os muitos que inventou com sua veia literária de ''imortal sem fardão''.
Hoje, quando sua filha Bebel recaptura em livro os melhores momentos das colunas que o pai escreveu, volto a perceber que ainda se deve ao Brasil a verdadeira história de Ibrahim Sued. Acredito - e levaria mais um passa-fora por isso - que o Turco desconhecido dos leitores e os segredos que guardou são o que há de melhor sobre ele. A trajetória desse filho de imigrantes rumo à glória, as paixões violentas e conquistas hollywoodianas, algumas gafes memoráveis e suas relações com celebridades internacionais guardam episódios que suas crônicas registraram apenas superficialmente.
Desancado por muitos críticos, Ibrahim desprezava-os exaltando o próprio sucesso. ''Os cães ladram e a caravana passa'', repetia.
O velho ditado árabe não seria sua única resposta, se quisesse.

Substituição - O mais celebrado dos colunistas brasileiros teve gestos de grandeza que se recusava a exaltar e que o fariam merecer afagos dos que o alvejavam. Mas era um urso silencioso quando o assunto era ele mesmo. Foi assim até o fim da vida.
O baque derradeiro ele sofreu do próprio O Globo, onde foi sumariamente substituído por Zózimo Barrozo do Amaral, em 1993.
Pela primeira vez, temi por ele. Evandro Carlos de Andrade, diretor de redação do jornal, me disse que a decisão vinha sendo amadurecida há muito tempo, pois sua coluna perdera o vigor e o jornal estava empenhado em contratar a grande estrela do Jornal do Brasil.
Ponderei que a aposentadoria significaria a morte para Ibrahim e insisti que lhe dessem, ao menos, uma coluna dominical.
Não sei se fui o único a levantar essa idéia. Mas acabou vingando. Ainda assim, o Turco ensaiou recusar. ''Vou para O Dia'', ameaçou. ''Você sempre reclamou que estava cheio de escrever todos os dias'', insisti. ''Fica com a semanal e começa a contar histórias que só você viu''. Ele concordou, mas o remédio foi ineficaz. Dois anos depois, um infarto fulminou Ibrahim Sued em seu apartamento na Joaquim Nabuco, onde ele dava festas e abria a golpes de sabre as garrafas de champanhe.
Influenciada pela conduta que tanto observou, sua companheira Simone Rodrigues não gosta de falar sobre os últimos capítulos do papa do colunismo. Mas conta que ele chorava muito. Ibrahim partiu triste.

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernob/2001/11/02/jorcab20011102003.html 




Praça em frente ao
Hotel Copacabana Palace

Ibrahim Sued é o nome dado a uma praça em frente ao Hotel Copacabana Palace, na Avenida Atlântica, em Copacabana.
O prefeito Cesar Maia resolveu prestar uma homenagem ao colunista, que morreu em 1995. A pracinha ganhou um busto do jornalista.
















O endereço não foi escolhido ao acaso. O colunista era famoso por se reunir com os amigos na Avenida Atlântica e promover lendários bailes de carnaval no Copacabana Palace.
Para o prefeito, é importante ligar a imagem de Ibrahim ao hotel. Cesar Maia associou a sofisticação das entrevistas com artistas e políticos famosos, realizadas na piscina do Copa, com o glamour do hotel mais conhecido do Rio de Janeiro.
O subprefeito da Zona Sul, Cláudio Versiani, diz que não serão feitas reformas no local. ''Foi uma idéia muito boa do prefeito. É mais do que justa esta homenagem ao jornalista, que projetou a cidade mundo a fora.'' 



quinta-feira, 31 de maio de 2012


Gente e Histórias: Carmen Mayrink Veiga

A nova vida da socialite carioca

A frase não é nova, nem minha, mas é esplêndida para defini-la: ''Nunca houve uma mulher como Carmen''.  
Sinônimo de elegância, riqueza e poder desde os anos 50, ela é a maior de todas, a top das tops do que hoje se conhece como socialite. A vida de Carmen parecia um conto de fadas que se acompanhava com enorme interesse pelas revistas e colunas sociais - um bom casamento, marido bonitão e milionário, viagens pelo mundo, amigos do jet set internacional, dois filhos lindos e muito bem casados e cinco netos. Morou 23 anos na Europa, com base em Paris, onde o casal tinha apartamento próprio. 

No fim dos anos 80, a vida dela começou a mudar. Primeiro, contraiu uma doença que atacou seus pés e a levou a usar muletas e cadeira de rodas. Depois, veio a derrocada financeira do marido, o empresário Tony Mayrink Veiga, com uma dívida de milhões de dólares, o leilão de obras de arte do casal e a venda de imóveis. Para Tony, 78, o período representou um ''pequeno inferno'', mas, para Carmen, tudo parece ter se resumido à constatação de que ''a vida é um quadronegro que escrevemos todos os dias''.Carmen Mayrink Veiga não chora sobre leite derramado, síntese de seu pensamento sobre a vida hoje, livre de todos os supérfluos que a alimentaram por mais de 50 anos. ''Tínhamos oito carros na garagem. Hoje temos dois. O que mudou foi o corte das coisas não necessárias. O mundo mudou. Tudo hoje é ostentação. E eu saio de um dia para o outro. Não fico preocupada.'' 

Nenhum sinal de decadência em sua casa, decorada com peças raras 


Ainda mora no tradicional bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, no belíssimo apartamento da Avenida Rui Barbosa, com parte da vista para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar ofuscada pelo enorme biombo, que ela justifica: ''Tem tanta vista que resolvi deixar aí mesmo!'' É verdade, beleza natural é o que não falta nos quase mil metros quadrados em que vive depois que os dois apartamentos em prédios vizinhos foram unidos. Nenhum sinal de decadência em sua casa, decorada com peças raras e antigas, muita prataria. Está impecável. 

Seu quadro pintado por Portinari em 1959 continua lá, mas o Rolls-Royce 1951 com que chegou à igreja em seu casamento com Tony em junho de 1956, não. O carro pertenceu a Flor de Oro Trujillo, filha do ditador dominicano Rafael Trujillo, na época em que foi casada com o playboy do século 20, Porfírio Rubirosa. E foi parar nas mãos do ex-senador Gilberto Miranda. Com o modo educado de falar de sempre, Carmen confessa que saiu do episódio da derrocada financeira com apenas uma grande perda: ''O pior de tudo foi a saúde. Foi a única coisa que eu não gostaria de ter perdido.'' Primeiro foram as fortes dores nos pés, diagnosticadas inicialmente como esclerose múltipla por um médico de Boston, Estados Unidos. 

O fato é que Carmen nunca teve tal doença e, sim, uma paraplexia tropical, vírus que ataca tanto animais como seres humanos. ''Meu problema começou há 25 anos. Minha filha ia se casar em abril e, um mês antes, comecei a sentir tonturas, pensei que era labirintite. Eu morava em Paris e estava meio na ponte aérea. Aí resolveram me mandar para um neurologista tido como o melhor de todos, em Boston, e ele errou o diagnóstico, disse que eu tinha esclerose múltipla. E começou a me dar doses de elefante de cortisona. Não sei como o meu corpo conseguiu voltar. Eu andava bem, mas tinha muita dor nos pés, dos joelhos para baixo. Daí foi piorando e imagina-se que um vírus tropical, que ninguém sabe se é vírus ou se é bactéria, me atacou. Um vírus que só existia no Japão e migrou para a América Central e depois para a América do Sul. Quer dizer, nunca vão encontrar a cura, já que não se prolifera nem nos Estados Unidos nem na Europa.'' 

Há seis meses, a saúde de Carmen sofreu novo baque, quando ela fez uma cirurgia de coração para implantar um novo tipo de marca-passo. ''Fui a mais de 20 médicos, na Espanha, na Inglaterra, em Israel. Agora, graças a Deus, todos eles são honestos: a doença não tem cura! Há paliativo para a dor e tinha um remédio ótimo, mas nessa brincadeira é que tive um problema no coração e tive de parar com mil remédios porque afetavam o coração. Isso atrapalhou muito minha vida porque, entre outras coisas, tem um aparelho grande aqui no coração (lado esquerdo) e acabei perdendo um monte de roupas. É um marca-passo novo. Enquanto uma cirurgia de marca-passo leva meia hora, a minha levou quatro horas e meia. E me dei conta outro dia, porque coloquei um vestido e vi que ficava com defeito. Pensei: o que é isso? Dei uma remodelada nas minhas roupas, porque no aparelho não posso mexer.'' 

A conselho da filha, Antonia Frering, ela resolveu trabalhar 

Logo depois do baque financeiro, a conselho da filha, Antonia Frering, ela resolveu trabalhar. Ficou três anos no jornal O Dia, de seu amigo Ary Carvalho, em que assinava uma coluna aos domingos, duas vezes por mês. Depois, fez reportagens para uma revista. Agora não tem mais condições. A nova bandeira de Carmen Mayrink Veiga, de idade não revelada, é a causa dos cadeirantes no Rio de Janeiro. Seus problemas na cidade a despertaram para a falta de condições mínimas para quem precisa entrar em lugares públicos com uma cadeira de rodas. 

''É uma tragédia, mas não vou desistir de reclamar. No Copacabana Palace, eu não posso ir. Agora, eu quero saber é se o Municipal, com tudo o que se gastou na reforma, vai dar condições aos cadeirantes. Outro dia fui a um lançamento de livro em um shopping. Existe uma lei que dá preferência a pessoas incapacitadas em uma fila. E não é que o segurança queria que eu ficasse na fila? Eu sou uma pessoa de pavio curto. Disse a ele que lamentava um homem de sua posição não conhecer as leis. O problema é dos shoppings - em desrespeito ao cidadão que paga imposto. E por aí vai. A Hildegard Angel está me ajudando a divulgar a causa dos cadeirantes.'' 

A dona do apartamento da Rui Barbosa continua esbanjando charme e simpatia. Gosta de falar e vai mudando de assunto a cada minuto, mas sempre se entende aonde ela quer chegar. O impressionante é que mantém o peso de seus 13 anos: 58 quilos em 1,82 metro de altura. ''Para manter o peso, em primeiro lugar, deve-se fechar a boca. Quando tive meu primeiro filho engordei apenas 5 quilos. Aqui em casa só se come o que não engorda.'' Carmen Terezinha Solbiati foi ''descoberta'' aos 13 anos por um fotógrafo da revista O Cruzeiro, nas praias do Guarujá, litoral de São Paulo. 

Apareceu, de maiô, em uma página dupla, para desespero do pai, de toda a família e das professoras. Ela nasceu em uma chácara em Pirajuí, interior paulista, descendente de italianos. ''Meu pai, se não fosse de uma família em que ninguém fica doente, teria tido um enfarto. Todas as professoras, todos os amigos, queriam me matar. E eu me achando um deslumbramento! Porque na época só aparecia de maiô em revista as vedetes do Carlos Machado, cada menina mais bonita do que a outra. Eu conhecia algumas delas porque nós ficávamos hospedados em São Paulo, no Hotel Esplanada, toda vez que minha mãe inventava de reformar a casa.'' 

Em 1960 entrou para a lista das mais elegantes do mundo 


Aos 16, foi eleita a Glamour Girl do Harmonia, clube de endinheirados paulistanos, na revista SP Magazine, da quatrocentona Maria Amália Penteado de Camargo. Em 1960 entrou para a lista das mais elegantes do mundo, criada pela jornalista americana Eleonor Lambert. Depois de figurar entre as mais mais por três anos seguidos, entrou para o Hall of Fame. ''É uma coisa boa, uma futilidade que não faz mal a ninguém.'' 

Ao contrário de seus filhos, Carmen Mayrink Veiga nunca negou a ser fotografada e aparecer nas revistas e colunas sociais. Uma revista queria muito uma foto de toda a família, mas os filhos não querem que os netos de Carmen apareçam, de jeito algum. ''Antonia está casada há muito tempo e acho que para o resto da vida. O Antenor casou com uma moça muito boa, Paty Leal, eu a adoro, sou muito amiga dela até hoje, tem dois filhos maravilhosos, mas não deu certo. Ele não casou de novo, mas está noivo, de uma menina, filha do Antonio Gallotti. Mas eu sou o contrário deles. Com 13 anos, fiquei encantada de sair numa revista e, a partir daí, onde eu ia era fotografada. E não era como agora que tem fotógrafos em todo lugar. Hoje, eu chego aos lugares, os fotógrafos dizem: 'Carmen, tire a muleta!' Qualquer dia vou cair em cima deles.'' 

Carmen Mayrink Veiga acorda sempre à 1h da tarde. Adora ver novelas, mas só gravadas, porque quando ela implica com um núcleo qualquer, corre a fita. Não tem paciência. Nunca quis ser atriz, modelo. ''Eu quero fazer o que quero, na hora em que quero e do jeito que quero. E vivo aprendendo.'' Usa computador? ''Tá brincando, né? Jogo só paciência e gamão. Não tenho e-mail. Eu sou superneurótica assumida. Tenho um gênio bom, mas sou neurótica.'' Já não frequenta mais a hidroginástica, o único exercício que fez na vida - hoje vai religiosamente ao curso de locomoção motora.

Vaidosa, não recomenda o uso de vestidos curtos numa cadeira de rodas. É contra plásticas no rosto. Fez apenas uma, no pescoço, ''por uma questão de higiene''. Festas grandes, não frequenta mais. Prefere os almoços de mulheres. ''Adoro aquele bate-papo cri-cri. Tenho um grupo que se reúne quase toda semana. É tudo muito atualizado com livros, com peças de teatro, com tudo o que acontece dentro e fora do Brasil.'' 

Está casada com Tony Mayrink Veiga há 54 anos. Nunca se separaram. Tony hoje vive com sete stents coronários, depois de três ou quatro operações no coração. Para Carmen, fisicamente ele está ótimo. ''Um gato. Houve períodos difíceis, claro. Mas eu tenho uma prática: dou férias a meu marido. E ele vai. Certa vez estava péssimo e passou um mês em um apart-hotel. Quem mantém o casamento é a mulher. Somos uma dupla calma. Ele grita, briga, desbriga e eu continuo na minha. Briga só desgasta o casamento. Mulher bem-criada e bem-nascida não se mete com homem casado. O maior erro é ter filho logo em seguida do casamento, discordo da santa Igreja quanto ao aborto.'' 

Em seu ponto de vista, Carmen é uma mulher privilegiada. ''Tenho paz de espírito. Aceito a doença, tenho de aceitar, é como se tivesse acontecido um acidente. Dobrei meu número de amigos depois que fiquei doente.'' Quanto à idade, por que tanto mistério? ''Nunca tomei conhecimento de idade. Eu não falo a minha idade por um único motivo: com a vida que levei, não tive tempo de contar.'' Como disse, nunca houve uma mulher como Carmen.
FONTE:CONTIGO.COM.BR

CARMEN MAYRINK VEIGA UMA DAS MULHERES MAIS ELEGANTES DO PLANETA.
FONTE: JAMIL PARA YOUTUBE.

Guilherme Guimarães : 50 anos de luxo e sofisticação


Guilherme Guimarães

No início dos anos 1960, apresentou coleções nos Estados Unidos e foi um dos estilistas convidados pela Rhodia para criar modelos com os tecidos sintéticos. Gui-gui vestiu as mulheres da alta sociedade e fez trabalhos para a Maison Dior. Licenciou produtos como jeans, óculos e camisas masculinas. Assinou o figurino de Danuza Leão (foto) no filme de Glauber Rocha,Terra em Transe, 1967. Hoje, trabalha em seu próprio ateliê no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

Tailleur






Você pode não saber quem ele é, mas sua mãe sabe. Em 1970, Pedro Aguinaga era um garoto lindo e cheio de amigos quando bateu o Gordini da tia na Praia de Botafogo e, para pagar o conserto, se inscreveu num concurso de beleza. Era a primeira disputa de beleza masculina da TV brasileira, no programa de Flávio Cavalcanti na Tupi. Pedrinho, como era conhecido, deu as caras, ganhou a primeira etapa, decidiu continuar no concurso e, 12 semanas depois, foi eleito “o homem mais bonito do Brasil”.
Daí em diante, virou lenda. Uma hora, estava em Nova York circulando no Studio 54 com Andy Warhol ou almoçando com Maria Callas num hotel da Quinta Avenida. Em outra, dava pinta na boate da moda em Paris. E colecionava conquistas amorosas. Liza Minelli, Bianca Jagger, Demi Moore, Marisa Berenson... e Monique Evans, com quem teve um filho, Armando, hoje com 31 anos. Por aqui, Pedro foi modelo, garoto-propaganda de cigarro, astro de bailes de debutantes e ator de nove filmes. Nos Estados Unidos, chegou a vender esmeraldas. Em Minas, teve um restaurante e um ateliê de bordados. A vida do homem mais bonito do Brasil, como se vê, renderia um livro mole, mole. E talvez renda. Prestes a completar 60 anos e alçado à categoria de avô faz seis meses, Pedro Aguinaga pensa em reescrever sua história. Mas como ficção, para evitar saias-justas.
Se fosse autobiográfico, começaria na Casa de Saúde São José, no Humaitá, onde ele nasceu. Filho de pai brasileiro (Fernando Aguinaga, conhecido como Barão) e mãe americana (Claudine, de quem herdou os olhos claros), Pedro cresceu viajando. Aos 11 anos, os avós paternos, querendo dar jeito no guri, o matricularam num internato em São João Del Rey. Magrelo, ele penou com a implicância dos colegas mineiros.

— Na primeira vez que tirei a calca pra botar pijama, eu usava cueca jockey. Aí, um gritou: “Ih, ó lá, o carioca é viado. Tá de calcinha.” Já começou o meu drama aí — ele dá uma risada.
Um dia, o carioca ficou amigo de um nerd grandão. E nunca mais ninguém mexeu com ele. Saía da manga, assim, um dos maiores talentos de Pedro Aguinaga: a capacidade de fazer amigos.
Rico, ele nunca foi. E também não investiu a sério numa carreira.

— Não sou de responsabilidades — ele diz, sem medo de julgamentos.
Por muito tempo, o escritório de Pedro Aguinaga foi a areia. E ele vivia entre a Praia do Diabo e o Arpoador, jogando frescobol de um lado e charme pras meninas do outro. Vivia, como diz, o melhor do Rio nos anos 70.
Tempos especiais, ele garante: — A Zona Sul era uma alegria, dava pra amarrar cachorro com linguiça de tão tranquilo. Tudo era bom. A violência era pouca, as drogas eram boas. Era uma coisa muito romântica.
Pedro até flertou com o terno e gravata, mas por pouco. A família queria que ele fosse diplomata, então ele foi estudar direito. Mas largou.

— Comecei a receber convite pra tudo — ele explica.
“Tudo” incluía desfiles, campanhas publicitárias, festas e viagens. Como não cumpria uma agenda noveagrave;s-cinco, ele tinha tempo de curtir o que a vida oferecesse. E ela ofereceu cinema.
Em 1970, pintou um convite para atuar em “Minha namorada”, longa de Zelito Viana, com Fernanda Montenegro e outro gato da época, Arduíno Colasanti.
Três anos depois, ele conseguiu um papel em “O judoka”, de Marcelo Ramos Motta, ao lado de Elizângela. Fez também filmes dos Trapalhões e longas dirigidos por Neville d’Almeida (“Rio Babilônia”, em 1982; “Matou a família e foi ao cinema”, em 1991; e “Navalha na carne”, em 1997). Mas não pensou em fazer disso uma profissão.
Em 1972, uma amiga que vivia em Nova York chamou Pedro para dar um tempo lá. Ele foi. E teve perfil publicado na mítica revista “Interview”, de Andy Warhol. Com a beleza abrindo portas de um lado e o prestígio dos amigos abrindo do outro, o galã carioca ganhou o mundo. E bombou nas colunas sociais. Em meados dos anos 70, de volta do Brasil, virou a cara do cigarro Chanceller, sob o esquisito slogan “O fino que satisfaz”.

— Nunca tive o melhor carro mas sempre andei no melhor carro. Nunca tive avião, mas sempre andei nos melhores aviões. Eu tenho um capital: grandes amigos. E se hoje eles são ricos ou não isso não me interessa — diz.
Pedro parece ter exercitado o desapego. Hoje, diz que leva uma vida espartana. Mora em Copacabana num prédio antigo construído pela avó (o edifício carrega o nome dela, Alice) e vive de aluguel. Do dentista ao cardiologista, não marca consulta, é atendido por amigos. Caminha todos os dias, só se locomove de bicicleta, faz meditação. Marcou a entrevista num restaurante a quilo na Siqueira Campos.
Na hora marcada, estava lá: camisa preta, dois botões abertos, mangas arregaçadas, calça black jeans, docksider sem meia, cabelos grisalhos, corpo bronzeado. Com 1,80m de altura, mantém os mesmos 68 quilos há anos. Fuma desde os 11. E fala do passado como quem viveu aquilo ontem. Sempre citando, com nome, sobrenome e aposto, cada personagem envolvido.
A ex-modelo e atriz Tânia Caldas, que o conheceu no auge da beleza e da fama, diz que o que mais impressionava era o lado amigável de Pedro.

— Ele sempre foi uma pessoa muito agradável. Não o vejo sempre, mas tenho o maior prazer quando o encontro. É o “amigo dos amigos”.
Monique Evans lembra de uma vez em que ganhou um carro de presente do primeiro marido. Pedro, sempre autoconfiante, vivia dizendo que ela ainda ia se casar com ele. Então, quando soube do presente, ele fez graça: deu um carrinho de brinquedo para ela. Anos depois, profecia cumprida, os dois foram viver juntos, Armando nasceu e, pouco depois, eles se separaram.

— Ele é inteligente, podia ter feito muitas coisas. Um desperdício... — ela diz.
Pedro também reconhece que podia ter feito mais. No início dos anos 80, quando os paetês estavam em alta, ele teve um ateliê de bordados em Uberaba.

Vendeu pra várias it girls, chegou a exportar, mas o negócio deu errado. Depois, teve um restaurante em Belo Horizonte, mas desavenças com o sócio o levaram a pular fora. A venda de esmeraldas foi um bico nos Estados Unidos. Um amigo exportava as pedras e Pedro se encarregava de fechar o negócio com compradores.

— Pensando bem, hoje eu estou pronto pra qualquer assunto. Geralmente o cara se diverte até os 20, trabalha até os 50 e depois se aposenta.
Eu fiz o contrário. Agora tô pronto pra trabalhar — ele diz. — Se eu tivesse a cabeça de hoje naquele corpo, eu era presidente da República. Afinal, tem gente que envelhece cedo e gente que não envelhece. Eu sou assim. Sou meio Peter Pan.

Fonte: O Globo - Revista O Globo - 06/12/09.

NEY GALVÃO CONVERSA COM MARIA ALCINA




FONTE: YOUTUBE.

Ney Galvão, simplesmente

Por Jô Souza*
Edição: Aldo Clécius
Imagens cedidas gentilmente do acervo de Marlene Galvão, Salvador-Ba.
Em janeiro de 1974, surgia na Bahia um estilista que, em poucos meses, se revelaria um dos grandes profissionais da alta costura. Criando um estilo bem pessoal, Ney Galvão conquistou, de imediato, a preferência da mulher baiana na arte do bem vestir.
Nascido em Itabuna, em 1952, capricorniano, caçula de sete irmãos, mescla de índio e português. Ney Galvão, que sonhava ser médico psiquiatra, formou-se em Belas Artes na UFBA e jamais podia imaginar que o destino reservava outro caminho para esse filho de Oxum.
O interesse por moda surgiu como conseqüência do fascínio exercido por ela nos anos 60, quando as quatro irmãs se arrumavam a qualquer hora do dia para sair. Então ele dava palpites, interferindo sempre nas roupas.
Aos poucos, era visto como um personagem exótico – pintava o rosto com teia de aranha, usava macacões dourados, sandália havaiana (que foi feita para mulheres), amarrava um bolso e um cós na calça Lee (customização): o seu pulsar criativo interferia na sua própria maneira de apresentar-se ao mundo.
Já em Salvador, nos anos 70, começou a trabalhar com artesanato, o que aprimoria ainda mais o seu fazer artístico. Desde então, começou a costurar para sua amiga Fátima Costa Teixeira, e ela foi ficando com fama de ser “louca” e bem vestida. No corpo desnudo da modelo e amiga, Ney iniciava seu trabalho com tecidos, criava a escultura da roupa (moulage) e, aos poucos, iam surgindo os frutos do seu talento.
Focado na mulher e demonstrando pouco interesse na moda masculina, Ney se revelava antimachista: o seu objeto de arte era o corpo feminino. Sempre buscava, nas formas, maneiras de como a mulher poderia transcender sua beleza e sensualidade libertando-se das amarras opressoras da figura masculina. Como chegou a declarar em uma entrevista à jornalista Eleonora Ramos: “A culpa é do homem. A causa é o marido repressor. Algumas dizem: Olha, segura o decote, senão na hora ele não me deixa sair. Isso até prejudica meu trabalho. Não fico à vontade. Tem horas que gostaria de fazer um vestido louquíssimo, pernas de fora, peito saindo, essas coisas, e não posso...”
“A MODA É CULTURA, SONHO E HISTÓRIA” Ney Galvão
Na década de 70, Ney começou a fazer desfiles e a aparecer no vídeo, em Salvador, falando de moda. Nilza Barude o lançou num programa de variedades, "Ponto Cinco", na TV Itapoan, antiga Tupi.
Ney já era denominado em 1977, por importantes jornais locais de “ fashion designer”, mesclando temas como cultura afro-brasileira, praia, artesanato, tropicália e sensualidade a materiais como cetim, algodão, crepe, brocados, sedas, palha da costa e penas, entre outros. Ele tentava criar uma moda genuinamente brasileira, uma moda local, resgatando as Gabrielas cravo e canela, as Marias Bonitas adormecidas, assim conseguia valorizar a silhueta da mulher brasileira, sem se preocupar com as tendências da moda européia.
Como declarou, certa feita, ao Jornal da Bahia, em 1973: “Não poupe as riquezas do Brasil nas criações das suas roupas. Viva a tropicália. Abuse do algodão brasileiro, dos chitões floridos, dos babados” e, em seguida, completa “Leve adiante na sua roupa toda a alegria do circo, o sorriso de um clown”.
Ney Galvão foi morar em São Paulo nos anos 80. Lá torna-se apresentador de TV fazendo quadros fixos e dando dicas de moda. Contudo, o êxito e reconhecimento nacional só foram alcançados quando foi convidado para substituir Clodovil no programa TV Mulher da Rede Globo, onde, com as dicas de moda, comportamento e beleza, tentava diagnosticar as necessidades de suas telespectadoras.
Ney conquistou o Brasil e rondou o imaginário popular com seu jargão: “Um cheiro com sabor de dendê” e com a piscada de olho que se torna marca registrada. Ney invadia os lares todas as manhãs, tornando-se uma celebridade, convivendo com artistas e socialites, conquistando espaço, respeito e credibilidade de todos, atingindo todas as camadas sociais. Ney vira um ídolo, uma espécie de “consultor de moda” das massas.
Com seu conceito que ele denominava de “anti-moda”, questionava os limites impostos pela indústria da moda e beleza. Que é moda afinal? Segundo ele próprio, moda tem a ver com personalidade, ninguém é obrigado a seguir a última moda, pois o que está na moda está fadado a morrer. Assim, vestir-se bem é respeitar o seu biotipo físico, o que combina, o que gosta, cada pessoa deveria seguir a sua própria moda. Cada corpo pede uma determinada roupa, a roupa tem a ver com o humor do dia da pessoa.
Com butique instalada na rica região do Jardim América, em São Paulo, chegou a comercializar dez mil peças de roupas por mês. No campo artístico, chegou a participar da programação vespertina da TV Bandeirantes.
Mas, ele continuava paralelo ao sucesso da TV a criar, a confeccionar seus looks, além de ter uma fábrica de jeans, cosméticos e malharia. Ney declarou, em 83, à jornalista Patrícia Grillo, do Jornal de Florianópolis: “As pessoas negam o luxo que temos aqui, como o tropicalismo” e, mais adiante, completa: A última coleção de Dior, inclusive, eu passei no meu programa. A noiva entrava ao som de Jorge Bem cantando “País tropical” de mini e cheia de babados. Mostrei vestidos amarelos com laços verdes. E a brasileira nega o ritmo brasileiro, o tropicalismo.” A luta continuava, na batalha travada para construir uma moda brasileira.
Chegou a fazer incursões no teatro profissional, 1984, com as peças "O Terceiro Beijo", ao lado da atriz Nicole Puzzi e ao lado de Jofre Soares e Sandra Pêra na comédia teatral "A Feira do Adultério", da autoria de Jô Soares e montada no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) em São Paulo. Sua passagem por Nova York, onde visitou a boate Malícia, acompanhado por Sônia Braga, causou sensação na imprensa.
O estilista, que na infância desenhava roupas para bonecas, atuou agressivamente no marketing da beleza, tendo incluído seu nome num enorme leque de produtos, desde óculos e perfumes até um sofisticado estojo de maquiagem. Aos 39 anos, de forma precoce, Ney Galvão faleceu no Hospital Albert Einstein, em 15 de setembro de 1991.
Ney foi um visionário. Aquele menino retraído do interior que vivia costurando roupas de bonecas e dando dicas de moda para todos entrou para a história da moda brasileira como exemplo de gênio e força criativa.
Ney é o próprio Dionísio, Baco, o encontro com a vida e sua obra provoca em nós, meros mortais, uma catarse, ao som dos címbalos e dos tambores africanos. É preciso dançar, criar, fazer em homenagem a ele. A sua vida e profissão operam em forças não humanas, aquelas flechas que tocam a alma e fazem a gente refletir quanta importância damos a tantas tolices cotidianas.

Jô Souza é concluinte da Pós-Graduação em Criação de Imagem de Moda – Senac/Ba. Este trabalho foi apresentado durante a instalação organizada pelo Senac/Ba, em outubro/2005, em homenagem ao estilista baiano.
Aldo Clécius é jornalista, pós-graduado em Moda e Comunicação pela Anhembi Morumbi, Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Moda da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
Agradecimento:
Este projeto não se tornaria palpável se não fosse a ninfa, musa, amiga, irmã de Ney, Marlene Galvão. Com ela repartimos nossa felicidade de nos proporcionar tantos aprendizados.