Dener, um luxo
16.09.2007
Único livro do polêmico Dener é reeditado pela Cosac Naify. Considerado o estilista pioneiro no Brasil, ele vestiu socialites do Rio de Janeiro e São Paulo, sendo a primeira celebridade nacional oriunda da moda.
Certa vez, uma senhora pediu para o mais famoso estilista brasileiro da época que fizesse o vestido de noiva para sua filha. No entanto, não teria condições de pagar pelo trabalho. A situação era a seguinte: a moça iria casar com um rapaz de família muito rica, contra a vontade dos pais do noivo que reclamavam contra a condição social da jovem. Eles mandaram que um grande alfaiate preparasse o terno branco especial para o casamento e deram à noiva dezenas de metros de ótima fazenda, pedindo-lhe que preparasse um vestido à altura da festa.
“Desenhei um vestido sensacional e mandei que minhas costureiras o preparasse. As provas eram feitas na casa de uma delas. O vestido não levou minha etiqueta e ninguém, nem a noiva, ficou sabendo quem era o figurinista. Imaginem o espanto de todos quando a noiva entrou na igreja com um dos vestidos mais sensacionais que se viram em São Paulo. O noivo quase caiu do altar”, conta o criador.
O estilista, no caso, era Dener, e a história está contada no livro “Dener - O Luxo”, escrito em 1972, quando ele tinha 36 anos, e que acaba de ser relançado pela editora Cosac Naify. Considerado o primeiro estilista brasileiro, o paraense Dener Pamplona de Abreu revolucionou a alta-costura nacional numa época em que não existiam estilistas. Apenas costureiros reclusos às suas oficinas. Na década de 70, conseguiu fazer sucesso no seu métier, frequentar a alta sociedade paulista e carioca e virar ídolo popular com um programa de televisão.
“Ele foi o primeiro grande estilista brasileiro e estava sendo esquecido. Conhecer Dener é fundamental para a moda brasileira”, justifica a editora responsável pelo relançamento do livro, Mariana Lonari. O próprio Dener se autodefiniu: “Eu criei a moda brasileira, um estilo próprio e nosso, que fez com que nossas grandes senhoras não precisassem ir vestir-se na Europa. Eu fiz os brasileiros acreditarem em moda, e figurinista passou a ser assunto. Lancei uma imagem e hoje ninguém tem vergonha de dizer que se veste no Brasil”.
Puro glamour
Com fino talento para a autopromoção, Dener fez sucesso no País e no exterior, chegando a receber convites para trabalhar em grifes como Dior. No entanto, preferiu continuar com a sua maison em São Paulo, cidade que adotou para morar, depois de uma temporada no Rio de Janeiro.
“Indo para a Europa, eu iria trocar a minha vida que é ótima, onde eu tenho tudo o que eu quero por essa monumental confusão, e a troco de quê? De mais alguns dólares? Eu não preciso deles”, justificou sua opção. Talvez até tivesse necessitado sim. Dener morreu em 1978, aos 42 anos, vítima de cirrose. Havia perdido clientes, passou a beber muito e entrou em decadência.
Celebridade
Mas o fim do estilista nem de longe combina com o que foi sua vida, uma celebridade no sentido mais amplo do significado. Costureiro oficial da primeira-dama do País, Maria Teresa Goulart, desenhava roupas desde criança, copiando de revistas femininas ou “vestindo no papel” mulheres comuns. Por isto, sempre andava com lápis e papel à mão. Foi assim que certo dia, dentro de um coletivo no Rio de janeiro, teve a sorte de se sentar vizinho à dona Cândida Fiala, diretora da Casa Canadá, importante loja de moda na época. Era a primeira vez que Cândida entrava num coletivo (seu carro havia quebrado). Ao ver os desenhos na pasta de Dener, perguntou quem os fazia. “Na mesma hora, resolveu levar-me para o senhor Jacob Feliks, dono da Canadá e melhor connaisseur de moda que tínhamos no Brasil”, conta Dener.
Da Casa Canadá, o estilista foi trabalhar com Ruth da Silveira, outro importante nome de moda da época. Depois, seguiu para a Europa. “Muita gente que vê meu sucesso de hoje pensa que eu conquistei tudo só com a minha frescura, que realmente é fora de série, ou porque tenho coragem de dizer as coisas. Tudo isso ajudou. Mas não teria chegado se não fossem os estudos e o trabalho”, afirma Dener.
Afetadíssimo e com uma língua ferina, ele costumava se definir como uma pessoa que tem coragem de dizer o que os outros não dizem. Clodovil, costureiro contemporâneo de Dener e hoje deputado federal por São Paulo, era um de seus alvos prediletos. “O Clodovil veste bem o seu tipo de clientela e é útil porque me poupa o trabalho de atender muita gente para quem eu não poderia criar. Ele vive dizendo que cobra muito caro, até mais caro do que eu. Não sei, porque não me preocupo com os preços dos outros. Minhas clientes pagam o que eu peço. O Clodovil pode pedir, qualquer um pode, o que ele quiser por um vestido. O problema é que ele não tem quem pague”.
É com essa linguagem direta e leve que Dener “viaja” pelas 160 páginas do livro. Além de abordar o ponto inicial da moda brasileira, ele fala de seu casamento, em 1965, com a modelo Maria Stella Splendore, com quem teve dois filhos. Hoje, Maria Stella e a filha, Maria Leopoldina, vivem numa comunidade hare krishna em São Paulo. O filho Frederico Augusto morreu aos 26 anos. Sobre a união de quatro anos, ele escreveu: “Eu sempre gostei muito de Maria Stella e ainda gosto. Seria a única mulher com quem eu casaria de novo”.
Certa vez, uma senhora pediu para o mais famoso estilista brasileiro da época que fizesse o vestido de noiva para sua filha. No entanto, não teria condições de pagar pelo trabalho. A situação era a seguinte: a moça iria casar com um rapaz de família muito rica, contra a vontade dos pais do noivo que reclamavam contra a condição social da jovem. Eles mandaram que um grande alfaiate preparasse o terno branco especial para o casamento e deram à noiva dezenas de metros de ótima fazenda, pedindo-lhe que preparasse um vestido à altura da festa.
“Desenhei um vestido sensacional e mandei que minhas costureiras o preparasse. As provas eram feitas na casa de uma delas. O vestido não levou minha etiqueta e ninguém, nem a noiva, ficou sabendo quem era o figurinista. Imaginem o espanto de todos quando a noiva entrou na igreja com um dos vestidos mais sensacionais que se viram em São Paulo. O noivo quase caiu do altar”, conta o criador.
O estilista, no caso, era Dener, e a história está contada no livro “Dener - O Luxo”, escrito em 1972, quando ele tinha 36 anos, e que acaba de ser relançado pela editora Cosac Naify. Considerado o primeiro estilista brasileiro, o paraense Dener Pamplona de Abreu revolucionou a alta-costura nacional numa época em que não existiam estilistas. Apenas costureiros reclusos às suas oficinas. Na década de 70, conseguiu fazer sucesso no seu métier, frequentar a alta sociedade paulista e carioca e virar ídolo popular com um programa de televisão.
“Ele foi o primeiro grande estilista brasileiro e estava sendo esquecido. Conhecer Dener é fundamental para a moda brasileira”, justifica a editora responsável pelo relançamento do livro, Mariana Lonari. O próprio Dener se autodefiniu: “Eu criei a moda brasileira, um estilo próprio e nosso, que fez com que nossas grandes senhoras não precisassem ir vestir-se na Europa. Eu fiz os brasileiros acreditarem em moda, e figurinista passou a ser assunto. Lancei uma imagem e hoje ninguém tem vergonha de dizer que se veste no Brasil”.
Puro glamour
Com fino talento para a autopromoção, Dener fez sucesso no País e no exterior, chegando a receber convites para trabalhar em grifes como Dior. No entanto, preferiu continuar com a sua maison em São Paulo, cidade que adotou para morar, depois de uma temporada no Rio de Janeiro.
“Indo para a Europa, eu iria trocar a minha vida que é ótima, onde eu tenho tudo o que eu quero por essa monumental confusão, e a troco de quê? De mais alguns dólares? Eu não preciso deles”, justificou sua opção. Talvez até tivesse necessitado sim. Dener morreu em 1978, aos 42 anos, vítima de cirrose. Havia perdido clientes, passou a beber muito e entrou em decadência.
Celebridade
Mas o fim do estilista nem de longe combina com o que foi sua vida, uma celebridade no sentido mais amplo do significado. Costureiro oficial da primeira-dama do País, Maria Teresa Goulart, desenhava roupas desde criança, copiando de revistas femininas ou “vestindo no papel” mulheres comuns. Por isto, sempre andava com lápis e papel à mão. Foi assim que certo dia, dentro de um coletivo no Rio de janeiro, teve a sorte de se sentar vizinho à dona Cândida Fiala, diretora da Casa Canadá, importante loja de moda na época. Era a primeira vez que Cândida entrava num coletivo (seu carro havia quebrado). Ao ver os desenhos na pasta de Dener, perguntou quem os fazia. “Na mesma hora, resolveu levar-me para o senhor Jacob Feliks, dono da Canadá e melhor connaisseur de moda que tínhamos no Brasil”, conta Dener.
Da Casa Canadá, o estilista foi trabalhar com Ruth da Silveira, outro importante nome de moda da época. Depois, seguiu para a Europa. “Muita gente que vê meu sucesso de hoje pensa que eu conquistei tudo só com a minha frescura, que realmente é fora de série, ou porque tenho coragem de dizer as coisas. Tudo isso ajudou. Mas não teria chegado se não fossem os estudos e o trabalho”, afirma Dener.
Afetadíssimo e com uma língua ferina, ele costumava se definir como uma pessoa que tem coragem de dizer o que os outros não dizem. Clodovil, costureiro contemporâneo de Dener e hoje deputado federal por São Paulo, era um de seus alvos prediletos. “O Clodovil veste bem o seu tipo de clientela e é útil porque me poupa o trabalho de atender muita gente para quem eu não poderia criar. Ele vive dizendo que cobra muito caro, até mais caro do que eu. Não sei, porque não me preocupo com os preços dos outros. Minhas clientes pagam o que eu peço. O Clodovil pode pedir, qualquer um pode, o que ele quiser por um vestido. O problema é que ele não tem quem pague”.
É com essa linguagem direta e leve que Dener “viaja” pelas 160 páginas do livro. Além de abordar o ponto inicial da moda brasileira, ele fala de seu casamento, em 1965, com a modelo Maria Stella Splendore, com quem teve dois filhos. Hoje, Maria Stella e a filha, Maria Leopoldina, vivem numa comunidade hare krishna em São Paulo. O filho Frederico Augusto morreu aos 26 anos. Sobre a união de quatro anos, ele escreveu: “Eu sempre gostei muito de Maria Stella e ainda gosto. Seria a única mulher com quem eu casaria de novo”.
FIQUE POR DENTRO
Do atelier à televisão
Dener nasceu em Belém do Pará, em 1936. Em 1957, abriu sua primeira maison em São Paulo. Nas décadas de 1960 e 1970, tornou-se o maior nome da alta-costura brasileira. Fazia grande sucesso sua participação como integrante do júri no programa de Flávio Cavalcanti, exibido na TV Tupi, no início dos anos 70. Quando ´Dener - o luxo´ chegou às livrarias em 1972, a reação da crítica foi inversamente proporcional a do público. Enquanto os fãs corriam para garantir, por 12 cruzeiros, um exemplar - a primeira edição se esgotou em três dias - críticos desclassificavam a obra como ´livrinho´, acusando o estilista de não ´revelar acontecimentos mais íntimos e menos fúteis - pouco esclarecendo sobre o Dener real´. A homossexualidade seria um destes temas.
Do atelier à televisão
Dener nasceu em Belém do Pará, em 1936. Em 1957, abriu sua primeira maison em São Paulo. Nas décadas de 1960 e 1970, tornou-se o maior nome da alta-costura brasileira. Fazia grande sucesso sua participação como integrante do júri no programa de Flávio Cavalcanti, exibido na TV Tupi, no início dos anos 70. Quando ´Dener - o luxo´ chegou às livrarias em 1972, a reação da crítica foi inversamente proporcional a do público. Enquanto os fãs corriam para garantir, por 12 cruzeiros, um exemplar - a primeira edição se esgotou em três dias - críticos desclassificavam a obra como ´livrinho´, acusando o estilista de não ´revelar acontecimentos mais íntimos e menos fúteis - pouco esclarecendo sobre o Dener real´. A homossexualidade seria um destes temas.
MODA
"Dener - o luxo"
Dener Pamplona de Abreu
160 páginas
"Dener - o luxo"
Dener Pamplona de Abreu
160 páginas
FONTE: COSAC NAIF-GLOBO.COM
DIÁRIO DO NORDESTE-EVA- SUPLEMENTO MODA E COMPORTAMENTO.
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